O Salário do Obreiro e o Preço do Evangelho
O que a Bíblia diz sobre sustento e cobrança no ministério
💰 O Princípio do Sustento Legítimo: "O trabalhador é digno do seu salário"
1. O Ensino de Jesus
Jesus enviou seus discípulos com esta orientação: "O trabalhador é digno do seu salário" (Lucas 10:7). Ele estabeleceu o princípio da reciprocidade: os discípulos ofereciam o evangelho e cura; as casas que os recebiam ofereciam sustento.
2. A Defesa Teológica de Paulo
O apóstolo Paulo, embora frequentemente renunciasse a esse direito para não ser obstáculo (1 Coríntios 9:12), defendeu-o com vigor:
"Não amordace o boi que pisa o grão... Quem serve como soldado às suas próprias expensas?... Quem apascenta um rebanho e não se alimenta do leite do rebanho?" (1 Coríntios 9:7-9).
Sua conclusão é clara: "Assim ordenou o Senhor que os que pregam o evangelho vivam do evangelho" (1 Coríntios 9:14).
3. A Prática da Igreja Primitiva
Vemos nas cartas de Paulo que igrejas locais sustentavam seus líderes (1 Timóteo 5:17-18) e apoiavam missionários (Filipenses 4:15-16). O sustento não era visto como pagamento, mas como provisão para que o obreiro se dedicasse integralmente ao ministério.
⚠️ O Princípio da Gratuidade: "De graça recebestes, de graça dai"
1. A Ordem de Jesus
A contrapartida essencial: "De graça recebestes, de graça dai" (Mateus 10:8). O evangelho é um dom imerecido (graça), e sua proclamação não deve ser tratada como mercadoria.
2. As Advertências Contra a Ganância
As advertências mais duras da Bíblia são contra os que exploram espiritualmente:
• Pedro alerta sobre falsos mestres que, "movidos pela ganância", explorariam os fiéis "com histórias que inventaram" (2 Pedro 2:3).
• Paulo fala de homens "cujo deus é o ventre" e cuja "mente está voltada para as coisas terrenas" (Filipenses 3:19).
3. O Exemplo de Pedro
Ao curar o aleijado, Pedro disse: "Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isto te dou" (Atos 3:6). O dom espiritual não era transacionável.
⚖️ A Síntese Bíblica: Sustento Sim, Cobrança Não
1. A Distinção Crucial
A diferença não está no receber sustento, mas no cobrar pelo ministério.
• Sustento é dado voluntariamente pela comunidade
• Cobrança implica em exigência, taxas, ingressos ou mensalidades obrigatórias
2. O Modelo Bíblico
O modelo é de oferta voluntária (como os filipenses enviaram donativos a Paulo), não de cobrança por ouvir a Palavra ou receber oração. O pregador fiel não emite fatura.
3. O Termômetro da Motivação
Paulo alerta contra a "ganância vergonhosa" (1 Tessalonicenses 2:5). O coração do ministro revela sua motivação: é movido por amor a Cristo e às almas, ou por interesse financeiro?
4. A Inclusão dos Pobres
Cobrar exclui os pobres, o que viola diretamente o espírito do evangelho (Tiago 2:1-7). O acesso à Palavra de Deus deve ser livre para todos, independentemente de condição financeira.
🔍 Conclusão: Um Ministério com as Mãos Abertas
Podemos e devemos honrar financeiramente aqueles que nos servem com a Palavra, garantindo-lhes uma vida digna e livre de ansiedades materiais indevidas. Esta é uma expressão de amor e gratidão da comunidade.
No entanto, nunca devemos comercializar ou colocar preço na pregação do evangelho. A autoridade para pregar vem de Deus, não de um certificado pago; o poder da mensagem está no Espírito, não na retórica de um orador caro; e seu alcance deve ser universal, não restrito a quem pode pagar.
O pregador fiel é aquele que, como Paulo, pode dizer: "Não cobicei a prata nem o ouro nem as roupas de ninguém... Vocês mesmos sabem que estas minhas mãos supriram minhas necessidades" (Atos 20:33-34), mas que também recebe com gratidão o amor da igreja que o sustenta.
O equilíbrio está em servir com as mãos abertas para dar o evangelho gratuitamente, e com o coração aberto para receber, sem exigir, o sustento que a comunidade, movida por Deus, livremente oferecer.
Este é o delicado equilíbrio bíblico: honrar o obreiro sem comercializar o dom; sustentar o ministério sem cobrar pela graça; reconhecer o valor do trabalho sem atribuir preço ao que é inestimável.